sexta-feira, 2 de julho de 2010

DESPRESENÇA

Solange Sólon Borges

“O existir de uma árvore é seu depoimento, o nosso seria alcançar o silêncio?”
(Adriana Lunardi)

Sua ausência é delito.
Tremo com a febre da despresença.
Eco em quarto surdo onde sempre se entrava.
Cama vaga e travesseiros a mais com arquitetura da dor concentrada.
Nos vimos tanto, nos sentimos tanto...
...por isso agora o estado da invisibilidade e da abstinência?
Onde o seu espírito que faz parte do meu ser que ruiu?
Ressacas furiosas derrotam a praia dos meus sonhos.
Labirintos.
Íntimos.

O sol se pôs diante da tempestade iminente.
Lágrimas brotam da língua estrangeira da saudade que é fratura.
Palavras de ruptura alteram a biografia e criam grossas paredes
abrigando as catedrais vazias em meus dias exagerados.
O rio que desconhece agora as direções.
Música que cala, voz que não fala.
Amanheço infértil quando sementes morrem em seus vasos.
Testamentos.

Há pessoas com talento para cicatrizes.
Conhecem a vocação para ferir.
O fim do amor é sempre dor...
...e morte...
...e turbilhão...
Qual punição merece quem rouba um sonho?
Quando muito se viveu, não se concede perdão.
Como ter minha vida de volta, quando o mundo segue seu normal movimento?
Tenho comigo detalhes e alguns talheres a menos à mesa.

Amor é claridade matinal.
Abissal.
Volúpia.
Fidelidade absoluta.
Marinhas. Aves do paraíso.
Ondas de prazeres e dor.

Nessa ilha secreta onde habito amplas paisagens,
sinto-me quase em ordem.
Amor deve ser exclusividade no banquete.
Vinho velho e muito tinto.

Um comentário:

  1. Vinho velho e muito tinto
    Do intimo da alma...

    Parabéns! Rios perenes e versos profundos
    Agora tenho uma amiga blogeira!

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