quarta-feira, 7 de julho de 2010

TEMPORAIS

Solange Sólon Borges

Há a vontade de transformar a quem se ama em eterno
Para que nada se macule ou degenere.
Mas a eternidade tem seu itinerário
E é outra a paisagem que nos habita:
Lagos tranqüilos e suas aves pernaltas em mergulhos bruscos
Sem medir a profundidade das águas.
Sei que não quero olhar só o espelho das águas
E imaginar seu sorriso que me sobressalta, apesar de natural.
Há a promessa de jamais deixar o outro olhar sozinho para o horizonte.
Mas o que é eterno e seguro? O ser que se ama adormece, como o rei,
Em sua condição precária e tangível.
Não, não o quero eterno, quero-o humano,
Com seus defeitos e dores,
Porque também me laceram como uma pedra arremessada ao lago
Gerando círculos concêntricos que não se sabe aonde param.
Uma hora esse universo de círculos inseguros que inventaram,
E suas marcas que nem sempre querem adormecer,
Também descansam.
São flexíveis.
Confesso: parece metafísica,
Mas aprendi a confiar em quem amo.

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