sábado, 12 de março de 2011

TORMENTA

Por Solange Sólon Borges

Ninguém crê que tudo se incendeia habilmente, depois de
sermos batidos pelo temporal. Há a necessária compensação
de forças entre amores - luxúria, urgências, cobiça e fé -
corpos desnudos com seus desejos encarcerados para que as
muralhas cedam, afinal. E eles querem partir, eles querem
partir dos corpos celestes, mas não podem:
há o homem e há a fera.
Chegam os ferreiros batendo estacas sobre o peito:
miasmas inundam os dias. O coração se reveste em pátina. O
amor é premente e peço as sementes: comem o figo.
Encontro vestígios de magma em minha pele bárbara.
São os pormenores da tormenta: sua face se dissolve na
lembrança e peço uma foto como se lhe pedisse qualquer
rosto ou mesmo alma. A ausência ressuscita Pan em meio
ao pânico. Mostrou-me o tango de seu corpo bailando sobre o
meu no momento da submersão.
Tenho cios crônicos.
Ata-me onde encontrar a fera e imagine a minha total
fragilidade em seu retorno.