quinta-feira, 22 de julho de 2010

AS CONFIGURAÇÕES DO FOGO

Por Solange Sólon Borges

As pétalas caem quando arde o fim do dia,
Quando submerge em meu corpo desnudo
Procurando a profundidade de si mesmo,
Quando crispa seus dedos e seus olhos
Como se aranhas ocultas o enredassem.

As pétalas caem delicadamente em seu dorso
Quando delira em pleno gozo.
As pétalas caem quando se resume ao que é:
Apenas um homem em busca de raízes e sementes.
Um anjo de asas partidas, incompleto, exigente,
Incontrolável porque tocam os ângelus,
Porque os campos parecem frios,
Mas seu corpo é incandescente.

As pétalas caem quando suas palavras
Estão imbuídas de sentimentos e pecados,
Porque o espírito límpido enfim se acalma
Em outra vida, em outra pele.

As pétalas caem para que tenha mais asas
E alcance seus sonhos com a intensidade necessária.
As pétalas caem para que se encontre
O que é belo e distante, o que parece fragilizado
Sob o Sol, mas que resiste.

As pétalas caem porque também se emocionam.
E a emoção é pura entrega.
O fogo consumido do fogo.
Hoje beijo seus olhos e derramo pétalas em seu dorso
Para que se torne alado,
Para que sinta a reverberação do amor e
A floração das rosas prostradas diante da primavera.

Enfeito-o de pétalas
Para que não se sinta deserto ou inocente,
Para que mereça o repouso
Depois de ter chegado
Ao ponto mais profundo do corpo,
O ponto mais próximo da alma.
São mistérios gozosos da natureza
Saber por que as pétalas caem,
Mas elas se entregam— totalmente nuas —
e não se consomem
em meio às chamas.

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